Saiba um pouco mais .... As tradições e a história africanas foram transmitidas e registradas mais no boca
a boca que nos documentos históricos escritos. Pelo Decreto de 14 de Dezembro de 1890 do então Ministro de Fazenda Rui Barbosa
toda a documentação referente à escravidão negra no Brasil foi mandada a queimar nos deixando pouco material para reconstituir
a história. Mas se acredita que: Para colonizar o Brasil, colônia recém descoberta da América do Sul, os portugueses
precisavam de mão de obra. Mão de obra suficiente para a construção do império e para os plantios de cana de açúcar, algodão,
café e fumo. Após a fracassada tentativa de utilizar mão de obra indígena os portugueses trouxeram os primeiros escravos da
África para o Brasil (meados do sec. XVI). Os negros eram aprisionados na África, trazidos em navios negreiros e vendidos
em regime de completa escravidão. Ao tornar o negro escravo, suprimiam sua cultura, sua alma e torturavam. Interessavam-se
apenas pelo corpo , sua força de trabalho. A capoeira nasce neste período, uma forma de resistência
dos escravos negros, um instrumento de libertação contra um sistema dominante e opressor, a busca da liberdade por uma raça
escravizada e mal tratada por seu colonizador. Nas fugas para os quilombos resultou de extrema utilidade para
lutar contra os capitães do mato. Estes recebiam ordens para capturar o maior número de escravos vivos, sem inutilizá-los
para o trabalho forçado. Assim, os escravos refugiavam-se nas matas e capoeiras e defendiam-se com tal destreza e violência
que muitas vezes debandavam os soldados que pretendiam agarrá-los. Foi assim que se espalhou a fama do jogo da capoeira.
Nas senzalas era praticada nos raros momentos de folga e para que os senhores não desconfiassem de que aquilo era
um combate, aliaram aos golpes a ginga e a música inerente em sua alma. Nas cidades, inicialmente, era nas festas
populares que os capoeiras se encontravam. Era onde podiam relaxar do trabalho forçado, das torturas e esquecer sua condição
de escravo, assim, era comum vê-los fazendo arruaças pouco se importando de estarem perturbando. Com o passar
do tempo aumenta a fama de lutador do capoeirista, vestindo-se de maneira particular, chapéu de lado e argola na orelha eram
capazes de fazer grandes desordens em segundos e conseguir escapar ilesos, o capoeira se oferece mercenariamente para assassinatos
e emboscadas e passa também a ser usado pelos políticos como capangas e são temidos até pela própria polícia. De
1865 a 1870 acontece a guerra do Paraguay, onde muitos capoeiras são enviados para a frente de batalha e voltam como heróis
pelo sangue frio e astúcia que demonstraram nos campos de batalha. Nesta época a capoeiragem encontra-se
em seu apogeu. No Rio de Janeiro, Recife e Salvador foram as principais cidades onde a capoeira proliferou. Identificados
como criminosos profissionais, o nome capoeira é associado ao malandro, desordeiro, ladrão. Com a chegada da República,
em 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca, pressionado pela crescente onda de criminalidade, inicia uma campanha de combate à
capoeira. Qualquer indivíduo que fosse encontrado praticando capoeira era sumariamente recolhido à ilha Trindade
(Fernando de Noronha) para trabalhos forcados. O código pena de 1890 previa de 2 a 6 meses de prisão celular aos praticantes
dos exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação de capoeiragem. Esta situação vai
se arrastando até 1932 quando Mestre Bimba tira a capoeira das ruas e a coloca nas academias, onde os ensinamentos são aprimorados
e as exibições começam a ser vistas por camadas sociais superiores. Assim, a história da capoeira passa por transformações
profundas. A classe média e a burguesia correm para as academias, a princípio para assistir e depois para aprender e praticar.
Daí, a 9 de julho de 1937 o governo oficializa a capoeira dando a Mestre Bimba um registro para sua academia. Um
status social superior invade as academias afugentando aqueles capoeiras conhecidos por desordeiros. Os que resistem e continuam
a frequentar se esforçam para se enquadrar no novo perfil que a capoeira toma. Assim, inicia-se sua ascenção socio-cultural,
voltando ao cenário cultural, está presente na música, nas artes plásticas, na literatura, nos palcos. Antes, uma atividade
praticada quase que exclusivamente por homens, passa a ser praticada também por mulheres e crianças. Em 1973 é
reconhecida oficialmente como esporte nacional. Daí em diante não para de crescer e se expandir adquirindo cada vez mais
adeptos de todas as raças e camadas sociais do Brasil e de todo o mundo.
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